quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Os 90 anos da Folha: 3 dos 9 atos

O Grupo FSP consegue a proeza de comemorar os seus 90 anos, admitir a colaboração ao regime autoritário, mas utilizando-se de uma escrita que nos dá a impressão de que narram a história de um estranho.
Não se compromete, não revê a sua trajetória e apenas expõe os fatos sem os interpretá-los. Seria cômico se já não o percebêssemos como trágico!




O PAPEL NA DITADURA


Folha apoiou o golpe militar de 1964, como praticamente toda a grande imprensa brasileira. Não participou da conspiração contra o presidente João Goulart, como fez o "Estado", mas apoiou editorialmente a ditadura, limitando-se a veicular críticas raras e pontuais. [Apoiou, mas não conspirou??? Como assim?]
Confrontado por manifestações de rua e pela deflagração de guerrilhas urbanas, o regime endureceu ainda mais em dezembro de 1968, com a decretação do AI-5. O jornal submeteu-se à censura, acatando as proibições, ao contrário do que fizeram o "Estado", a revista "Veja" e o carioca "Jornal do Brasil", que não aceitaram a imposição e enfrentaram a censura prévia, denunciando com artifícios editoriais a ação dos censores. [Então o "correto" era se submeter. Que vantagens se leva nisto? Verbas do governo?]
As tensões características dos chamados "anos de chumbo" marcaram esta fase do Grupo Folha. A partir de 1969, a "Folha da Tarde" alinhou-se ao esquema de repressão à luta armada, publicando manchetes que exaltavam as operações militares. 
A entrega da Redação da "Folha da Tarde" a jornalistas entusiasmados com a linha dura militar (vários deles eram policiais) foi uma reação da empresa à atuação clandestina, na Redação, de militantes da ALN (Ação Libertadora Nacional), de Carlos Marighella, um dos 'terroristas' mais procurados do país, morto em São Paulo no final de 1969. [Que loucura, eles não entregaram a FT para se auto-proteger como empresa, mas para defende-la de "terroristas" infiltrados que, como empregados, podiam ser demitidos e ponto].
Em 1971, a ALN incendiou três veículos do jornal e ameaçou assassinar seus proprietários. Os atentados seriam uma reação ao apoio da "Folha da Tarde" à repressão contra a luta armada. 
Segundo relato depois divulgado por militantes presos na época, caminhonetes de entrega do jornal teriam sido usados por agentes da repressão, para acompanhar sob disfarce a movimentação de guerrilheiros. A direção da Folha sempre negou ter conhecimento do uso de seus carros para tais fins". [E continua negando, pois nos seu balanço de 90 anos, fala de si na terceira pessoa do plural - eles].
SURFANDO A ONDA DA ABERTURA

No início de 1974, Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha, foi procurado por Golbery do Couto e Silva, futuro chefe da Casa Civil do governo de Ernesto Geisel, prestes a tomar posse.


Os dois militares seriam os principais artífices do projeto de distensão e abertura política, e Golbery encontrou-se com donos de jornais para expor o plano. Sabendo que enfrentaria a resistência da linha dura, queria a imprensa como aliada natural. 

No caso da Folha, Golbery deixou claro que ao futuro governo não interessava ter um único jornal forte em São Paulo. A conversa coincidiu com discussões internas na empresa, com vistas a aproximar a Folha da sociedade civil. A empresa tinha saldado as dívidas iniciais e se expandido. O passo seguinte seria transformar o matutino num jornal influente. 

Em meados de 1974, uma reunião em Nova York entre Frias, Cláudio Abramo e Otavio Frias Filho foi decisiva para a definição da nova estratégia. Sob a inspiração de Frias pai, uma ampla reforma editorial foi concebida e executada nos anos seguintes por Abramo, que trabalhava na Folha desde 1965. As páginas 2 e 3 se tornaram espaços de opinião crítica. Passaram a fazer parte da equipe editorial colunistas renomados, como Paulo Francis e, mais tarde, Janio de Freitas. 

A trajetória teve um desvio em 1977, quando, por pressão da linha dura do governo, Abramo foi afastado de seu cargo. O revés, no entanto, seria passageiro. Boris Casoy, que o substituiu, manteve a orientação e garantiu que o jornal tivesse um espaço relevante no processo de redemocratização."
 O JORNAL DAS DIRETAS

Em 1983, o Brasil estava num limbo político: tinha-se como certo que o ciclo militar se aproximava do fim, mas a eleição para presidente ainda era indireta. Foi nesse contexto que, timidamente, surgiu o movimento das Diretas-Já.
Folha foi o jornal que mais se associou às Diretas. Seu engajamento é anterior ao das principais lideranças de oposição que, em fins de 1983, ainda não formavam uma frente compacta, deixando prevalecer os interesses partidários. Nessa altura, quando o movimento mal conseguia encher uma praça, o jornal criticou o sectarismo dos políticos e o silêncio da imprensa.
Os jornais só passaram a dar importância às Diretas-Já a partir de 25 de janeiro de 1984, quando o aniversário da cidade se transformou no primeiro dos muitos megacomícios que seriam realizados nos três meses seguintes. 
Quando praticamente toda a imprensa cobria o movimento, o diferencial da Folha foi o tom de campanha. Jornalistas da sede em São Paulo viajavam para todas as capitais e grandes cidades onde eventos eram realizados. Os textos, com frequência ufanistas, procuravam inflamar os ânimos, de modo a arrastar mais pessoas para as ruas. No auge do movimento, a Folha passou a ser chamada até nos palanques de "o jornal das Diretas". 
Com a autoridade moral conquistada durante a campanha, o jornal também criticou desvios de lideranças políticas, ao identificar manobras por baixo do pano com vistas a garantir a eleição indireta de um civil de oposição. 
Quando as Diretas foram derrotadas no Congresso, em 25 de abril, a Folha foi o jornal que captou com mais intensidade a decepção popular. "A NAÇÃO FRUSTRADA!" foi a manchete do dia seguinte, ao lado de um editorial que chamava os parlamentares responsáveis pelo resultado de "fiapos de homens públicos" e "fósseis da ditadura".
Apesar da derrota, o movimento pavimentou o caminho para a eleição indireta do oposicionista Tancredo Neves. Quanto à Folha, saiu da campanha com capital editorial suficiente para se tornar um dos jornais mais influentes do país". 

No Barão de Itararé: Mídia e Golpismo, Ontem e Hoje (1964-2024)

  Car@s; Deixo um debate muito bacana que participei.  Para assistir, click na imagem.